Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A curva de contágios pela COVID-19 no Brasil tem aumentado a cada dia. Enquanto as esferas federal, estaduais e municipais divergem em relação a quais estratégias tomar para enfrentar a doença, a população luta cotidianamente para sobreviver, não apenas aos danos causados à saúde física, como também à saúde mental.
Para abordar o tema da pandemia da COVID-19 sob a perspectiva da Psicologia Social, o Setor de Comunicação do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (SeCom/CFCH) entrevistou Thiago Melicio, professor adjunto do Departamento de Psicologia Social, do Instituto de Psicologia (IP) da UFRJ. Segundo ele, em todo o mundo as pessoas estão tendo que reinventar seus modos de vida, ao mesmo tempo em que lidam com situações-limite, como enterros sem contato com o ente querido, sendo que, no Brasil, o abismo socioeconômico dramático e ascendente descortina um cenário conflituoso e peculiar. “No caso da realidade brasileira, em que se vive acentuada desigualdade social, em que parte das autoridades do primeiro escalão da gestão pública age em desacordo com as orientações sanitárias e científicas, com grupos polarizados e forte acirramento das diferenças, esses processos e os fortes impactos na saúde mental são ainda mais complexos”, afirma o docente.
A rede pública de saúde busca atuar, tanto no que se refere aos efeitos da pandemia como no atendimento psicossocial, para prestar os serviços, garantidos pela Constituição de 1988, a 75% da população que depende exclusivamente do SUS. No entanto, faltam equipamentos, treinamento e condições mínimas para realizar esse atendimento. “Tão importante quanto pensarmos nos efeitos da pandemia na conjuntura atual, é refletirmos sobre os efeitos das políticas de austeridade e de privatização do bem público no Sistema Único de Saúde”, aponta Melicio.
Para ele, a COVID-19 não afeta igualmente a todos. “O Brasil tem um histórico escravocrata, oligárquico e patriarcal, que produz desigualdades e concentração de renda, fazendo com que a incidência e as formas de vivenciar a pandemia sejam diferentes entre os grupos sociais”, enfatiza. Nesse sentido, a universidade pública tem papel determinante e deve exercer esse protagonismo. “As universidades públicas são responsáveis pela maior parte da produção científica do país, dando subsídios importantes para as tomadas de decisão da gestão pública e dos serviços, (...) fazendo com que a Academia tenha uma incidência direta ainda mais significativa na sociedade”, analisa o professor do IP-UFRJ.
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Fonte: Site UFRJ (Adaptada)